Fundo Escuro

                                                     

                                   
Fernando Pessoa foi um poeta português do inicio do século 20.
Ele criou vários heterônimos que são como outras personalidades suas e que tem cada um
deles seu próprio estilo de escrever e de ver a vida.
Aqui estão alguns exemplos da obra de Fernando Pessoa.
Referir-se ao ser humano como “cadáver adiado que procria” é, no mínimo, original.
O poema de Alberto Caieiro (heteronimo) abaixo faz lembrar que o ser humano é na verdade
insignificante diante da Natureza, e lembra também
a frase de Mario Sergio Cortella que diz “Tu és o vice-treco do sub-troço” 
(Ver palestra “Você sabe com quem esta falando?” link no fim da pagina).
Fernando Pessoa viveu entre 1888 e 1935



D. Sebastião, Rei de Portugal

Louco, sim, louco porque quis a grandeza
Qual a sorte não dá.
Não coube em mim com certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Autopsicografia

O Poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não só as duas que ele teve,
Mas só a que eles têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.  

Poema de Alberto Caieiro (heterônimo de Fernando pessoa)

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as arvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã.
Morreria contente, porque ela seria depois de amanhã,
Se esse é o seu tempo, quando havia ele de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso se morrer agora morro contente,
Podem rezar em Latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferencias para quando já não puder ter preferencias.
O que for, quando for, é que será o que é.  

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa - Quem foi Fernando Pessoa

https://www.youtube.com/watch?v=0YGB5u2u8kA -palestra Mario Sergio Cortela